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Vender uma casa gera luto, sim senhor!

  • Foto do escritor: rosemari  gonçalves
    rosemari gonçalves
  • 29 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Estamos a poucos dias de vender minha casa desde a infância em São Paulo. Não a casa em que nasci. Essa no Rio de Janeiro foi vendida muito tempo atrás. A atual é o pouso seguro em que deixei de morar por muitos intervalos de tempo, exercendo minha profissão de jornalista e depois de mulher que gosta de estar perto de mar. Hoje psicóloga posso entender os ciclos desta casa e seus moradores tão diferentes e tão cúmplices.

Pois bem. Muitos a olharam. Muitos depreciaram seu valor tão evidente para nós, as três filhas do construtor, Sr. Pedro. E todas essas pessoas tinham sua razão. Somos culpadas confessas de não pintar, não restaurar, não reformar. Por motivos muitos, a casa ficou ao sabor do tempo com sua implacável mão.

Mas a cada um desses compradores apenas dedicamos minutos de atenção e os deixamos ir. Agora não há mais o olhar indiferente. Alguém viu a casa, alguém sonhou viver nela e assumir os reparos que ela necessita, para que fique de pé com dignidade por mais tantas décadas. Nossa casa é cinquentona. Demorou para ser concluída quando éramos crianças. Depois de mortos os pais, cada filha cuidou de seu pedaço de história dos Gonçalves originais.

Hoje há sobrinhos e sobrinhos netos, irmãs morando fora já com novos endereços e casamentos, assim estamos vivendo nossas últimas semanas na casa de Mogi.

Casa dos primeiros namoros, das formaturas, dos Natais com pernil e dos momentos de adeus.

Vender a casa é recomeçar em outro lugar, dando chances de novo patrimônio individual a cada um de nós.

Deus nos ajude.

Pandemia, vá tão depressa como começou.

O luto é para ser encarado e superado. Não vou negar, sentirei falta da ameixeira. E da vizinhança. E dos sons que o passado marcou.

Muito grata a Deus. Muita grata a aquele senhor que sonhou primeiro, Pedro, construtor e pedreiro da nossa fortaleza.

Nem bem as chaves mudem de mão, será uma vitória pessoal saber que amei cada cantinho do meu lar. Que aqui meu filho também cresceu e agora o Luquinha, o bisneto do construtor, já arrastou um caminhão de bombeiro de plástico pelos corredores.

Está escrito, maktub! Será luto, mas será com gratidão.

Foto: Rosemari Gonçalves Instagram: @psicologa_rosemarigoncalves

 
 
 

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